Para quem anda de moto e tem alguma experiência, era até esperado que a frase que dá título a esta reportagem surgisse com clareza após uma pesquisa mais minuciosa. Mas o resultado deste importante trabalho realizado pela Faculdade de Medicina da USP com patrocínio da Abraciclo – Associação que reúne os fabricantes de motocicletas – veio acompanhado de revelações surpreendentes, como o fato de que em 21,3% dos acidentes analisados o motociclista estava sob efeito de drogas (maconha e cocaína) ou álcool, ou que 23% não tinham Carteira Nacional de Habilitação para pilotar motocicletas.
O estudo foi revelado hoje, 15/8, em São Paulo, pela professora doutora Júlia Maria D’Andréa Greve, do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, que comandou o trabalho de pesquisa. Este trabalho faz parte do “V Seminário Álcool e Drogas: O grande desafio da segurança no trânsito” e do III Fórum Segurança e Saúde no Trânsito.
No preâmbulo da apresentação dos resultados, a doutora Júlia explica as principais razões para a realização da pesquisa, que foi realizada em função do crescimento do número de acidentes com motocicletas e de vítimas fatais nos últimos dez anos. “O crescimento da frota de motocicletas, as dificuldades de mobilidade urbana das grandes cidades e a clara vulnerabilidade da motocicleta em relação aos demais veículos estão entre os fatores que explicam – mas não justificam – este crescimento”, escreveu a doutora Júlia. “A rede de atendimento do SUS do Brasil foi invadida pelas vítimas dos acidentes com motocicleta em número e gravidades nunca vistos anteriormente”, complementa.
O objetivo do trabalho foi identificar e qualificar os fatores relacionados aos acidentes com motociclistas nas regiões urbanas para entender melhor o problema e contribuir, de fato, na definição de ações eficientes de redução de acidentes. “A parceria entre FMUSP, HCFMUSP e ABRACICLO permitiu a realização desta pesquisa que busca resultados que possam contribuir para a implantação de políticas públicas eficientes na redução dos acidentes e melhora da mobilidade urbana não apenas dos motociclistas, mas de todos que dividem o espaço urbano”.
O estudo avaliou as causas associadas aos acidentes de trânsito com motociclistas ocorridos na região oeste da cidade de São Paulo, coletando informações relativas a fatores humanos, viários e veiculares. Os dados foram coletados junto ao primeiro atendimento ao acidente e também no hospital a partir de entrevistas com as vítimas atendidas, tendo envolvido equipes multidiciplinares e as equipes de plantão designadas para a realização da coleta. O período da pesquisa foi de 19/02/2013 a 12/05/2013, em diversos horários e dias, resultando na coleta de dados de 326 acidentes com vítimas.
Conclusões
Como conclusões a pesquisa aponta para prioridades que precisam ter soluções rápidas e eficientes:
– Criação de um sistema de informações comum sobre acidentes de trânsito que seja a base para implantação e avaliação das políticas pública de prevenção;
– Melhora da habilitação dos condutores de todos os veículos com ênfase na segurança, direção defensiva e uso compartilhado das vias;
– Fiscalização efetiva das condições de segurança dos motociclistas e das motocicletas;
– Menos leis e mais ações no combate à questão das drogas/ álcool e direção veicular;
– Melhorar as condições de visibilidade do motociclista e motocicleta.
Veja a seguir alguns dados da pesquisa nos gráficos.
Dados relativos às vítimas
Maioria dos acidentados usa a moto para transporte
Quase metade sofreram apenas lesões leves, o que tem relação com a velocidade e com os equipamentos usados
Surpresa: 23% não habilitados
Mais uma surpresa: quase 10% não usava capacete
A grande e desagradável surpresa: 21,3% estavam drogados ou alcoolizados
Motofretistas são mais experientes, pois estão mais tempo expostos, mas representam parte menor da amostra
Acidentes se distribuem de forma equilibrada ao longo de todos os dias da semana
As vias tem responsabilidade em 18% dos acidentes
Poucos problemas nas motocicletas
Culpa: dividida igualmente entre motoristas e motociclistas
Resumo dos culpados pelos acidentes
Fonte: IG